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Você pratica o que defende?

Ter um posicionamento ético, socialmente correto e ambientalmente responsável é uma premissa amplamente discutida e cada vez mais cobrada pela sociedade de empresas de todos os tamanhos


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Você pratica o que defende?

Ter um posicionamento ético, socialmente correto e ambientalmente responsável é uma premissa amplamente discutida e cada vez mais cobrada pela sociedade de empresas de todos os tamanhos. É claro que o compromisso com o ESG (Ambiental, Social e Governança) deve estar realmente presente no propósito e nas práticas das companhias, mas a provocação que proponho é sobre as pessoas: todos nós, na vida pessoal, também não deveríamos assumir esse compromisso? Estamos realmente exercendo nosso papel tal como cobramos as empresas? Deveríamos!

 

A expressão em inglês “Walk the Talk” define bem esse momento. O ser humano age de acordo com o discurso que defende – e cobra – das organizações? São os pequenos gestos do dia a dia que fazem a diferença. Jogar lixo pela janela do carro, não recolher os dejetos do cachorro durante o passeio, dar uma “ajudinha” ao policial para não ser multado, fazer ou ser permissivo com comentários preconceituosos, entre tantas outras “pequenas” atitudes que podem passar despercebidas, mas que quando são realizadas por uma empresa o julgamento é imediato.

 

Cobrar não é o suficiente, devemos praticar. “O jeitinho brasileiro”, conhecido no mundo todo, não é uma referência positiva à população. Há milhares de relatos de brasileiros que moram fora do país e sofrem preconceitos por causa dessa fama e a única forma de mudá-la é com nossas ações.

 

Ao fazer essa reflexão quero ressaltar a responsabilidade de cada um de nós. Afinal, uma empresa é feita de pessoas e, em muitas situações, o mundo corporativo e o privado são considerados distantes quando na realidade se misturam. Os colaboradores devem compartilhar dos valores que a empresa propaga, devem caminhar juntos em prol de objetivos nos quais também acreditam, defendem e promovem.

 

Como consumidores, teoricamente o discurso está alinhado: a pesquisa Retratos da Sociedade Brasileira – Consumo Consciente, feita pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), mostra que um em cada três brasileiros está disposto a pagar mais por produtos fabricados de maneira ambientalmente correta, com baixa emissão de poluentes e resíduos. A porcentagem é de 36% quando a pergunta é sobre os valores dos alimentos orgânicos e de 37% ao serem questionados sobre pagar mais caro em produtos de origem animal que minimizem o sofrimento.

 

Porém, quando consideramos que são mais de 20 milhões de brasileiros que vivem em moradias precárias (Fundação João Pinheiro (FIP), Ministério do Desenvolvimento Regional, Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD)) e 33,8 milhões de trabalhadores com renda mensal de, no máximo, um salário mínimo (levantamento da LCA Consultores, com base nos indicadores da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD) trimestral do IBGE), sabemos que não é bem assim que funciona. Infelizmente, com essa realidade, o preço e qualidade levam vantagem em relação aos critérios sustentáveis.

 

A relação empresa cliente deve então encontrar um equilíbrio. A cobrança e as ações devem ter o mesmo peso e a mesma medida para ambos. Nossas informações pessoais, um dos bens mais valiosos que temos, podem ser trocados por um desconto em uma promoção? O consumidor pode estragar propositalmente um produto e depois pedir para ser ressarcido? Um “cliente” pode adquirir determinada mercadoria para fazer um estoque de preços com uma marca premium e assim barganhar na venda de outra mais barata? São alguns exemplos que já presenciei e ouvi de colegas que ocorrem tanto no mercado B2C quanto no B2B.

 

Mais do que praticar o ESG, as empresas precisam olhar com atenção para esse tipo de relação e terão que se posicionar com atitudes mais firmes, como a rejeição de fornecedores, parceiros e até mesmo clientes que não compactuem com os mesmos valores e práticas em que acredita. O G de Governança também se refere à ética em relação ao cliente, a observação de quem está consumindo os produtos, de qual forma e essa premissa deve estar à frente do lucro. Fica o convite para uma reflexão sobre nossas atitudes antes de promovermos cancelamentos e linchamentos virtuais. Juntos podemos transformar nossa sociedade, com respeito e reciprocidade.

 

* Luís Fernando Guggenberger é executivo de Marketing, Inovação e Sustentabilidade da Vedacit, responsável pela coordenação das iniciativas de Inovação Aberta e Sustentável e pelo Instituto Vedacit. Formado em Publicidade e Propaganda pela Universidade Guarulhos e pós-graduado em Comunicação Empresarial pela Faculdade Cásper Líbero. Sua experiência profissional é marcada pela passagem em fundações empresariais como Fundação Telefônica e Instituto Vivo, além de organizações sociais na cidade de São Paulo. Participa do Conselho de Governança do GIFE – Grupo de Institutos, Fundações e Empresas, e do Conselho Fiscal do ICE – Instituto de Cidadania Empresarial. Mentor de startups de impacto socioambiental.