Março de 2020 nunca mais estará fora da nossa lembrança. O mês foi marcado pela nuvem negra que pairou em nossas cabeças com a pandemia da Covid-19. Da noite para o dia, planejamentos foram revistos, metas rediscutidas e repactuadas, casas se tornaram escritórios, lares e salas de aula ao mesmo tempo. Deixamos de conviver presencialmente com pessoas em nossos trabalhos, encontros de happy hour e eventos.
Aliás, o setor de eventos amargou por um longo tempo um cenário de muitas incertezas, como muitos outros. Centros que recebem pessoas vindas de todos os cantos do mundo ficaram às moscas. Agências precisaram se reinventar e criar formas para minimamente manter-se de pé. Profissionais e artistas também buscaram inúmeras alternativas para manter a renda.
Eis que a nuvem está se dissipando e voltamos a nos encontrar, ufa! Escritórios retomando em novos formatos de trabalho, a maior parte utilizando um modelo híbrido com o home office, aspecto de fundamental importância, afinal eles têm silêncio e sons, parafraseando Lulu Santos e eu diria que tem cheiro também.
Aos poucos, o mercado de eventos começa a sua retomada. Neste primeiro momento muito movimentado pela nossa necessidade de sair de casa, do escritório e voltarmos a ver gente. Segundo, porque eles são sem dúvida alguma uma boa maneira para fecharmos bons negócios e, para esta retomada da nossa economia, passam a ter uma importância ainda maior.
Rodando por alguns desses eventos, em especial os ligados ao setor da construção civil brasileira, notei uma mudança importante em tempos de agenda ESG (governança ambiental, social e corporativa) tomando espaço cada vez maior dentre os pilares da estratégia das empresas. Ainda que de maneira gradativa, as discussões sobre diversidade vêm ocupando as rodas de debate do setor e, em uma sociedade cada vez mais ligada no discurso e prática das organizações, é de fundamental importância estarmos atentos para garantir em todos os pontos de contato dos stakeholders com as marcas a coerência tão esperada pelos consumidores.
No aspecto da diversidade, uma mudança que percebo é o protagonismo das mulheres na agenda dos eventos. Em pleno século XXI é inadmissível que sejam tratadas como um objeto. No passado, em eventos como a Feira do Automóvel,
o que mais atraia os visitantes era não só as supermáquinas e lançamentos da indústria automobilística, mas também as modelos hipnotizando os visitantes. Aliás, alguns desses eventos da construção civil cometiam – e ainda temos algumas marcas que cometem – esse equívoco, colocando nos estandes mulheres seminuas, algumas vestidas como se estivessem embaladas à vácuo, para vender pincel, prego e afins.
Vejam, não estou criticando aqui a liberdade que toda e qualquer mulher tem que ter sobre o que veste, sou totalmente a favor do “meu corpo, minhas regras”. A crítica aqui é que ainda vemos colegas nas áreas de marketing selecionando o casting e escolhendo vestimentas para a composição visual dos espaços, o que não cabe mais em nossa sociedade, com intencionalidades muito atrasadas. Pior ainda, marcas que declaram a sustentabilidade como um atributo que as diferenciam no mercado praticando o chamado greenwashing nestes momentos, afinal coerência entre discurso e prática é tudo.
Neste sentido, deixo aqui o meu convite para refletirmos nesse momento de retomada dos eventos presenciais, onde muitos de nós temos nos preocupado em aproveitar para inovar e criar outros formatos de interação com os diferentes públicos. Será que também não é uma boa hora para revermos velhos paradigmas como esse do protagonismo de homens e mulheres nesses encontros?
* Luís Fernando Guggenberger é executivo de Marketing, Inovação e Sustentabilidade da Vedacit, responsável pela coordenação das iniciativas de Inovação Aberta e Sustentável, pelo Instituto Vedacit e CCVO (Chief of Corporate Venture Officer) da TRUTEC. Formado em Publicidade e Propaganda pela Universidade Guarulhos e pós-graduado em Comunicação Empresarial pela Faculdade Cásper Líbero. Sua experiência profissional é marcada pela passagem em fundações empresariais como Fundação Telefônica e Instituto Vivo, além de organizações sociais na cidade de São Paulo. É membro do Comitê de Inovação do IBGC – Instituto Brasileiro de Governança Corporativa, também participa do Conselho de Governança do GIFE – Grupo de Institutos, Fundações e Empresas, do Conselho Consultivo da GRI Brasil e do Conselho Fiscal do ICE – Instituto de Cidadania Empresarial. Mentor de startups de impacto socioambiental.